SEGUNDA PARTE: O ABANDONADO - CAPÍTULO I Havia sete meses bem contados que o balão atirara os cinco passageiros às praias da ilha Lincoln, sem que, durante todo esse tempo, os colonos tivessem detectado o mais pequeno sinal de presença humana. De repente, todas as suas deduções e convicções eram postas em causa por um simples grão de chumbo encontrado no corpo de um pecari! E motivos havia para o espanto, e alguma apreensão também, que naquele momento cada um dos colonos não deixaria de sentir. É que o chumbo só podia ter saído de uma arma de fogo disparada por um ser humano! Cyrus Smith pegou no chumbinho, virou-o e tornou a virá-lo entre os dedos e perguntou de chofre a Pencroff:
- Tem a certeza de que o pecari não tinha mais de três meses?
- Absoluta, senhor Cyrus! Pois se, quando o encontrei na cova, ainda estava a mamar na teta da mãe!
- Sendo assim, fica provado que nos últimos três meses alguém disparou um tiro de espingarda na ilha Lincoln. Daqui podemos concluir como certo que, das duas, uma: ou a ilha já era habitada quando cá chegámos, ou alguém desembarcou nestas costas nestes últimos tempos... Claro que também pode ser um náufrago, ou náufragos. - E o engenheiro continuou: - O que não podemos adivinhar é se se trata de um ou mais homens, se são amigos ou inimigos, americanos, europeus ou indígenas...
- Não, isso não pode ser! Mil vezes não! - exaltou-se o marinheiro. - Não há mais ninguém nesta ilha além de nós cinco! Que diabo, se tivesse habitantes, já os teríamos visto.
- O Pencroff tem razão e o contrário é que seria de admirar concordou Harbert.
- O que seria de admirar é que este animalzito tivesse nascido com um chumbo no corpo! - comentou Gedeão Spilett.
O engenheiro Smith retomou a palavra:
- A pessoa, ou pessoas que desembarcaram na ilha, ou estiveram de passagem, ou ainda cá estão.