CAPÍTULO IV Spilett e Smith precipitaram-se para o jovem, cujo corpo inerte Pencroff abraçava já, cheio de desespero:
- Mataram-no! Mataram o meu menino! - gritava o marinheiro, as faces sulcadas de lágrimas.
O repórter encostou o ouvido ao peito de Harbert.
- Está vivo, mas é preciso levá-lo daqui... - disse. - Para o curral, já! Cyrus, entretanto, corria ao longo da paliçada, contornando-a pelo lado esquerdo. Viera dali o tiro. De repente, viu-se frente a frente com um bandido que, de rosto contraído pela cólera, lhe atravessou o chapéu com uma bala. Não teve tempo de disparar segunda vez, porque o engenheiro, mais rápido, o abateu com uma facada em pleno coração.
Nessa altura, já o infeliz Harbert jazia na cama de Ayrton, na cabana do curral. Enquanto Pencroff se entregava à sua dor, Gedeão Spilett fazia tudo o que estava ao seu alcance para salvar o rapaz. O repórter, habituado aos incidentes mais diversos próprios da sua profissão, tinha alguns conhecimentos de primeiros-socorros e de medicina corrente. O estado de Harbert, contudo, parecia ser muito grave! Ajudado por Smith, pôs a descoberto o ferimento no lado direito do peito, entre a terceira e a quarta costela. A bala não ficara alojada no corpo e o ferimento das costas era ainda maior. Spilett interrogava-se sobre os danos que o projéctil podia ter provocado nos órgãos atingidos... De qualquer modo, era urgente parar a hemorragia sem fechar nem comprimir demasiado as feridas pois, sendo certo que havia lesões internas, importava que a supuração não se acumulasse. Assim, o improvisado cirurgião optou apenas por lavar os ferimentos e aplicar compressas de água fria, completando o tratamento com tisanas refrescantes, que Pencroff ia preparando com as ervas que o próprio Harbert colhera junto do lago, e de que havia boa provisão na cabana do curral.