CAPÍTULO II Pelas seis da manhã, os colonos já estavam a postos para prosseguir a pé a expedição em direcção a oeste. Antes de partirem, verificaram a amarração do bote e, depois de decidido o melhor caminho a seguir, Cyrus Smith recomendou expressamente que não se fizesse uso das armas de fogo quando se aproximassem do litoral. Esta precaução desagradou bastante a Pencroff, que, de boa vontade, mandaria umas cargas de chumbo aos javalis e cutias que, pelos vistos, abundavam por aqueles sítios! Três horas depois, os colonos viram o caminho barrado por um curso de água desconhecido, com poucos metros de largo e uma corrente fortíssima. O leito rochoso e irregular apresentava uma série de declives e rápidos, tornando a navegação impraticável.
- E agora, senhor Cyrus? Estamos cortados? - perguntou Pencroff.
- Não passa de uma ribeira! Podemos atravessar a nado - sugeriu Harbert.
- Não vale a pena - atalhou Cyrus Smith. - É evidente que este ribeiro corre para o mar, portanto, se seguirmos pela margem, vamos dar à costa. A caminho!
O terreno não apresentava dificuldades ou obstáculos de maior, pelo que a marcha decorria com rapidez; também por ali não era visível qualquer pegada ou outro indício da passagem de seres humanos. Finalmente, por volta das dez e meia, Harbert, que seguia na dianteira, parou de repente, soltando uma exclamação:
- Olha o mar!
Não restavam dúvidas! Sem qualquer zona de transição, o arvoredo terminava abruptamente mesmo à beira do oceano, enquanto o regato se despenhava de um último declive. Que contraste entre aquela costa e a outra onde o destino os lançara! Ali não havia muralha de granito, rochas ou escolhos pelo mar fora, sequer uma praia! Perante aquela orla florestal admirável, onde, porém, seria impossível qualquer acostagem, o plano inicial foi alterado.