CAPÍTULO IX Duas semanas tinham passado, desde que Smith e Spilett haviam localizado o escoadouro das águas excedentes do lago.
Foram dias de trabalho intenso para a pequena colónia, empenhada em levar por diante o plano de fazer ir pelos ares parte da parede de granito que sustinha as águas do lago. Para tanto, precisavam de obter uma substância explosiva, que foi conseguida a partir das pirites xistosas que existiam em abundância na jazida de hulha. Após diversas manipulações e morosos processos químicos sob orientação de Cyrus Smith, o sulfureto de ferro extraído das pirites foi transformado em sulfato, do qual se obteve ácido sulfúrico; seguidamente, por combinação deste com salitre, resultou ácido azótico. Por fim, o ácido foi posto em contacto com a glicerina extraída da gordura do dugongo, fornecendo diversas camadas de um líquido oleoso e amarelado.
Desta última operação se ocupou Cyrus Smith, sozinho e longe das Chaminés, dado que envolvia sério risco de explosão.
Quando voltou para junto dos companheiros, trazendo na mão um recipiente com o tal líquido, limitou-se a dizer-lhes: "Nitroglicerina!"
- E é com esse licor que vamos fazer explodir os rochedos? - perguntou Pencroff, incrédulo.
- Exactamente! - retorquiu o engenheiro. - E quanto mais resistência a rocha oferecer- e nós sabemos que o granito é duríssimo - tanto maior será o efeito da nitroglicerina.
No dia seguinte, 21 de Maio, logo de manhã cedo, o grupo de mineiros improvisados dirigiu-se à penedia de granito, que funcionava como uma espécie de dique a conter as águas do lago. Era ali que o engenheiro tencionava abrir uma brecha por onde a água poderia sair, pondo a descoberto o orifício do escoadouro subterrâneo.
Pencroff e Nab, munidos de picaretas, lançaram-se ao trabalho com tanta destreza e ardor que, pelas quatro da tarde, o buraco estava pronto para receber a carga de nitroglicerina.