CAPÍTULO II Estava consumado! Os piratas tinham fundeado a curta distância da ilha, e era evidente que no dia seguinte viriam a terra nos escaleres. Cyrus Smith e os companheiros estavam prontos a agir mas, por maior determinação que os animasse, impunha-se-lhes a maior prudência. Talvez pudessem, ainda, dissimular a sua presença... Quem sabe se os intrusos não pretendiam apenas abastecer-se de água doce? Nesse caso, não seria previsível que descortinassem a ponte sobre o Mercy, a mais de um quilómetro da foz, e ainda menos as obras de melhoria das Chaminés.
- De qualquer modo - fez notar Smith -, aqui estamos razoavelmente defendidos. Os piratas não vão conseguir descobrir a abertura do escoadouro do lago, que está muito bem camuflada, e nunca serão capazes de entrar na Casa de Granito.
- Mas as nossas plantações? - exclamou Pencroff, em desespero. - A nossa capoeira, o curral, enfim, tudo o que construímos? Eles podem destruir tudo em poucas horas!
- Tudo, é verdade. E nós não temos meios de o impedir..: concordou o engenheiro.
Nesse momento, Ayrton, que até então parecera alheado, aproximou-se de Cyrus Smith e disse-lhe com firmeza:
- Senhor Smith, peço-lhe autorização para ir ao navio ver quantos homens são e o que pretendem.
- Vai arriscar a vida e, além disso, não tem nenhuma obrigação... - respondeu Cyrus, hesitante.
O engenheiro Smith percebia que o condenado, tornado homem honesto, procurava mais aquela provação, como se ainda não tivesse expiado todos os seus crimes.
- Devo cumprir muito mais do que a minha obrigação! - obstinou-se Ayrton. - Irei a nado, visto que é a melhor maneira de passar despercebido.
- Eu vou consigo! - decidiu Pencroff. - Mas só até ao ilhéu. Depois fico ali à sua espera, para o que der e vier.