CAPÍTULO IV Gedeão Spilett estava sentado na praia, imóvel, olhando o mar. O vento soprava forte e o aspecto do céu só confirmava o vendaval que certamente não tardaria. Pencroff foi ter com ele:
- Parece que vamos ter uma noite dos diabos, senhor Spilett.
- Estava aqui a pensar, Pencroff, que não deixa de ser muito estranho que os corpos de Cyrus Smith e do cão não tenham dado à costa..., caso tenham morrido, claro!
- Pode não ser... O mar estava bravo e, além disso, as correntes podem tê-los levado para longe - respondeu o marinheiro.
- Com todo o respeito pela sua experiência, Pencroff, acho que o desaparecimento de Cyrus e do Top, vivos ou mortos, não tem explicação - volveu o jornalista.
- Quem me dera pensar como o senhor, mas, infelizmente, estou convencido de que morreram afogados.
E com estas palavras, Pencroff voltou às Chaminés para preparar o jantar. Depenou dois tetrazes, enfiou-os num pau e pô-los a assar ao lume.
Pelas oito horas, Nab ainda não tinha voltado e os três companheiros jantaram em silêncio, presos da maior inquietação.
Que teria acontecido ao jovem negro? Talvez estivesse abrigado em qualquer sítio, esperando o amanhecer... Com efeito, lá fora na noite escura, a tempestade atingia proporções formidáveis.
Seriam umas duas horas da manhã, quando o marinheiro foi despertado por uma sacudidela vigorosa.
- Escute, Pencroff! Escute! - disse Gedeão Spilett.
- Mas o que é? Que aconteceu? Só ouço o vento! - respondeu o marinheiro.
- Não, não! Ia jurar que era o ladrar de um cão! - exclamou Spilett.
- Um cão? Não é possível! - Puseram-se os dois à escuta e numa acalmia do vento ouviram-se, de facto, latidos ao longe.
- É verdade, é verdade! - gritou Pencroff.