CAPÍTULO IX Ao ouvir estas palavras, o homem ergueu-se e os colonos puderam vê-lo perfeitamente: um rosto magnífico, de testa alta e olhar penetrante, emoldurado por uma barba branca cuidadosamente aparada, assim como branco era o cabelo abundante penteado para trás. A sua expressão era calma, mas qualquer coisa dizia que aquele homem que se apoiava às costas do sofá estava a ser consumido por uma doença lenta e implacável...
Foi, porém, em voz firme, mas um tanto surpreendida, que respondeu:
- Senhor, eu não tenho nome!
- Eu sei quem o senhor é... - disse Cyrus Smith.
O capitão Nemo olhou insistentemente o engenheiro e deixou-se cair de novo nas almofadas.
- Ah, que importância tem isso agora? Afinal, vou morrer... - murmurou.
Cyrus aproximou-se, seguido de Spilett, e ambos apertaram a mão do velho senhor. Este fez sinal para que se sentassem a seu lado. Ayrton, Pencroff, Harbert e Nab mantiveram-se de pé um pouco afastados, guardando um silêncio respeitoso. Era muito forte a emoção que se apoderara de todos diante do "senhor da ilha", do genial benfeitor a quem tanto deviam! E como é que o engenheiro sabia o seu nome?
- Então o senhor conhece o nome que usei noutros tempos... - disse, finalmente.
- Sim - respondeu Cyrus Smith -, assim como também sei o nome desta maravilhosa nave submarina - o Nautilus!
- E, todavia, vai para trinta anos que não tenho qualquer contacto com o mundo dos homens... trinta anos vividos nas profundezas do mar, o único sítio onde encontrei a paz. Mas diga-me, quem poderá ter traído o meu segredo?
- Um homem que não assumiu qualquer compromisso com o senhor e que, portanto, não pode ser acusado de traição! - respondeu, vivamente, Smith. - Um homem que contou ao mundo tudo o que viveu junto de si, que escreveu um livro sobre a história da sua vida, capitão Nemo, a que deu o título de Vinte Mil Léguas Submarinas.