- Que grandes patifes! Instalados como se a casa fosse deles... Ah! os piratas, com trinta mil diabos!
O sol subia no horizonte iluminando plenamente a fachada da Casa de Granito, mas o aspecto era da maior calmaria e não se via vivalma... Até era caso para duvidar que a casa estivesse ocupada, se não fosse a porta aberta e a escada recolhida! A única coisa que podiam tentar era apanhar a ponta da escada, içada até ao patamar a meio da muralha, e puxá-la; por sorte, tinham um arco, flechas e cordas nas Chaminés, e Harbert foi escolhido para levar a cabo a proeza. Amarrou uma corda à seta, fez pontaria e disparou. A seta cortou os ares e foi prender-se na escada! Ia o rapaz puxar pela ponta da corda para desprender a escada, quando um braço apareceu à porta e içou as escadas para dentro de casa! Ao mesmo tempo, surgiam às janelas umas criaturas peludas e de tamanho considerável a fazer acenos e caretas na direcção dos colonos...
- O quê? Não querem lá ver! Os invasores são macacos. Esperem aí, que eu já lhes digo! - berrou Pencroff, disparando um tiro para uma das janelas.
Uma das criaturas caiu redonda na praia. Era um animal corpulento, do tamanho de um homem. Depois de um breve exame, Harbert virou-se para o marinheiro:
- Olha, Pencroff, não são exactamente macacos... São orangotangos, da ordem dos antropomorfos e, para além do seu aspecto quase humano, são espertíssimos!
- Pois sim, pois sim... Macacos ou orangotangos tanto me faz! Só queria saber é como vamos entrar em casa! - arrepelava-se o marinheiro. - De parvos é que não têm nada! Vejam lá se eles aparecem outra vez à janela! Ai os estragos lá em casa... e a razia na despensa!
Os colonos esperaram mais umas boas duas horas, mas nem um único orangotango se deixou ver.