A Rosa do Adro - Cap. 10: CAPÍTULO 10 Pág. 85 / 202

Terminada a entrevista, António regressava a casa e entrava com as mesmas cautelas com que saíra.

Ignoravam, pois, completamente, os dois amantes a presença desta testemunha ou desta sombra que por toda a parte os seguia, e por isso entregavam-se sem o menor receio aos transportes do amor que os abrasava, não se havendo nunca dado entre eles o mais pequeno dissabor, o que contribuía para o recrescimento da afeição e da familiaridade que costuma adquirir-se no decorrer de semelhantes relações.

Uma noite, porém, a fatalidade ou o demónio da tentação veio abrir um novo período a essas afeições.

A noite estava medonhamente tempestuosa.

A chuva, desde o entardecer, caía em grossas torrentes; o vento, forte e destruidor, assobiava sinistramente por entre a ramagem das árvores e na sua carreira impetuosíssima parecia abalar as próprias entranhas da terra; a trovoada estalava no espaço com horrível estrépito, e os relâmpagos incessantes descreviam uns discos luminosos no fundo negro do firmamento.

Era uma dessas cenas sublimes de terror que só se presenciam bem nos lugares distantes das cidades e que impressionam os espíritos mais fortes e intrépidos!

Sem embargo dessa completa revolução dos elementos, Fernando saíra de casa às horas costumadas e encaminhara-se para a habitação de Rosa.

Chegado ali, soltou o sinal aprazado, e, passados momentos, a jovem cuidadosamente embuçada, acercou-se de Fernando, transida de medo pelo aspeto da noite.

- Que imprudência, Fernandinho! - exclamou ela com voz trémula. - Pois atreveu-se a vir com semelhante tempo?!

- Cala-te, minha querida - respondeu o rapaz, beijando-a na face-, quando se ama como eu te amo, não há perigos nem dificuldades que se não vençam.

- Mas, meu Deus! com este tempo é impossível permanecermos aqui.





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