CAPÍTULO 5 Decorreram seis ou sete dias depois dos sucessos que deixamos narrados.
Durante este espaço de tempo nada se passou de notável, a não ser o completo silêncio que ambos os jovens se tinham guardado sobre os sentimentos das suas almas.
Rosa, desde a última tarde em que Fernando lhe patenteara o seu amor, evitava toda a ocasião de se achar a sós com ele e fugia arteiramente ao mais simples galanteio que tentava dirigir-lhe.
Nunca mais fora descansar, ao anoitecer, para junto da porta, e, de tarde, quando o esbelto caçador passava alguns minutos em frente da sua janela, a conversa era sempre de uma frieza e seriedade bem patentes.
Quem os tivesse observado nalguns desses curtos diálogos, diria que entre um e outro não existia a menor afeição.
E, contudo, Rosa, apesar da sua simulada indiferença, amava Fernando, e amava-o com um amor excessivo, mas concentrado. E a prova mais manifesta desse amor era que a pobre rapariga, desde muito, vivia triste e pensativa, como se um pesar oculto lhe trouxesse enlutado o coração.
A sua voz alegre e sonora já não ecoava tantas vezes na imensidão daqueles prados; e, se por um momento esse canto ainda se fazia ouvir, era sempre monótono, triste e repassado de amargura. O sorriso dos lábios, a alegria que transpirava de todos os seus movimentos mudara-se em dolorosa languidez e inação.
A Fernando, porém, não passara despercebida aquela repentina mudança, e, como perfeito conhecedor do coração feminino, chegara quase a convencer-se de que Rosa efetivamente o amava em extremo, mas que por motivos que ele ainda não pudera alcançar, procurava ocultar-lhe esse amor à custa dos maiores sacrifícios.
Em vista disto, o jovem não desesperou do seu intento, e, agora mais do que nunca, procurava momento oportuno de poder arrancar-lhe do peito esse segredo que ela tanto se obstinava em confessar.