CAPÍTULO 16 Na noite seguinte ao dia em que Fernando esteve em casa da baronesa e onde se tratou dos assuntos que deixamos relatados, por volta da meia-noite duas fortes marteladas soaram na porta da herdade do Capitão.
Como era de prever, este sucesso surpreendeu toda a gente da casa, e alguns criados, que se levantaram à pressa, vieram indagar da causa de tal motim.
Ao abrirem o portão, depararam com um homem, parecendo já de bastante idade pelo estado de curvação em que permanecia, embuçado num farto capote de saragoça, que lhe ocultava a maior parte do rosto, já quase invisível pela escuridão da noite.
- O filho do Sr. Capitão está em casa? - perguntou o velho com voz meio trémula.
- Está, sim, senhor - respondeu um dos criados - queria-lhe alguma coisa?
- Faça-me o favor de lhe dizer que está aqui um pobre velho, que lhe vem pedir para ver a sua mulher, perigosamente enferma.
- Mas a esta hora, e em tal noite?!
- Oh! não se demore... Diga-lhe também que já fui a casa do outro cirurgião, mas que ele se recusou a vir ver a pobre doente, e que, em vista disto, apelava para o bom coração do Sr. Fernando.
- Mas, meu amigo, isto não são horas de ir ver doentes; além disso, o filho do nosso amo está talvez a dormir, e ir agora acordá-lo...
- Não será necessário esse trabalho - exclamou Fernando, aparecendo subitamente junto do grupo. - É de algum doente que se trata, não é verdade?
- É sim, meu bom senhor - respondeu o velho, curvando-se mais - , minha pobre mulher foi há pouco atacada por um triste acidente, ou coisa que o valha, e jaz sem sentidos há já bastante tempo. Fui procurar o Dr. Resende, mas ele negou-se a ir vê-la. Como soube que o senhor tinha vindo há dias de concluir os seus estudos, lembrei-me de recorrer ao seu bom coração, e é O que venho fazer.