CAPÍTULO 17 Dois dias depois dos sucessos que ficam narrados, por volta das 10 horas da manhã, Rosa, encostada ao peitoril da pequena janela do seu quarto, permanecia triste e imóvel, envolvendo num só olhar a alegre natureza que se estendia ao longe, então revestida das suas mil galas e abrilhantada pelos raios de um belo sol de Primavera.
A pobre rapariga, a quem os estragos da doença e as mortificações do espírito tinham colocado num estado de dolorosa prostração, parecia dirigir nos seus rápidos olhares os últimos adeuses àquele belo cantinho do mundo, como se adivinhasse os poucos dias que lhe restavam para o contemplar.
Durava havia já muito esta muda expectação, quando um pequeno ruído veio repentinamente desviar-lhe as atenções dos objetos que fitava, e, voltando o rosto, viu entrar no seu aposento um criado da herdade do Capitão.
Esta repentina aparição produziu na desventurada jovem o efeito de um choque elétrico.
Sem indagar ainda a causa que ali o levava, sentiu-se desfalecer como se aos ouvidos lhe ressoasse a triste notícia de uma desgraça que a precipitaria mais depressa no túmulo da morte daquele a quem amava ainda com todas as veras da sua alma.
O seu espanto, porém, redobrou, quando o rapaz, dirigindo-se-lhe, se expressou nestes termos:
- Rosa, o filho do meu amo, o Sr. Fernando, manda-me aqui para pedir-lhe que vá imediatamente falar-lhe.
- Como?! - exclamou a rapariga, tremendo de comoção - Pois ele ainda vive?!...
- Se ainda vive?!...
- Oh! perdoe-me, Francisco, mas, quando o vi entrar, foi a primeira lembrança que me ocorreu... Têm-me dito que está tão mal!...
- É verdade, é, mas, por ora, graças a Deus, ainda não perdemos as esperanças... Mas não percamos tempo com mais explicações, e prepare-se para partirmos.