CAPÍTULO 18 Desde as quatro horas da tarde desse dia, começara a juntar-se à porta da herdade um grande número de pessoas de todas as idades e sexos, atraídas ali por essa curiosidade tão peculiar, principalmente às pequenas povoações.
A notícia do casamento de Fernando com a Rosa do Adro espalhara-se tão rapidamente por toda a aldeia, que dentro em poucos momentos não havia nela uma só pessoa que não soubesse deste repentino sucesso. E a maior parte dessa gente, ávida e curiosa de assuntos que dessem largo pasto às suas conversas, dirigiu-se desde logo, em tropel, para a casa do pai de Fernando, a fim de indagar os motivos de tão inesperado acontecimento.
Cada criado que aparecia no limiar do portão era logo cercado e martirizado com perguntas de uns e outros, às quais respondiam, ou por ignorância, ou por qualquer recomendação que lhes fosse feita a tal respeito:
- Nada sabemos; foi coisa deliberada hoje pela manhã lá em segredo. O que apenas podemos afiançar é que tudo isso se faz a pedido do filho do nosso amo.
Estas vagas respostas deixavam a multidão perplexa e cada vez mais ansiosa, e afinal cada um traduzia o facto ao seu modo e dava-lhe uma cor mais ou menos verosímil.
Enquanto, porém, a multidão se acotovelava à porta da herdade, enchendo o espaço desse vozear surdo, que se assemelha ao embalar das ondas no mar largo, no aposento do doente passava-se uma outra cena bem diversa.
Ali reinava um silêncio tumular, e quase que nem sequer se pressentia o respirar das pessoas que cercavam Fernando. Este permanecia meio recostado sobre o leito e com os olhos ansiosamente fitos na porta pela qual devia entrar a sua futura esposa, parecendo que cada momento que decorria era para ele um século de angústias e mortificações.