CAPÍTULO 7 São decorridos perto de quinze dias, depois das cenas que deixamos descritas.
Durante esse tempo nada se passou de notável, a não ser os progressos que fazia de dia para dia o amor dos dois jovens.
Dir-se-ia que já não havia forças humanas capazes de separar aqueles dois corações tão cheios de douradas esperanças.
Fernando não deixara um só dia de ir visitar a linda aldeã; além disso, já não era só à porta da habitação e debaixo da janela que faziam as suas mútuas promessas.
Rosa, pretextando ir a casa desta ou daquela amiga, avisava antecipadamente Fernando, e por isso não era raro encontrá-los ou no meio de um atalho mais escuso, atrás de uma sebe, ou ainda sentados junto ao tronco de uma árvore, confiando um ao outro o segredo íntimo dos seus anelos, dos seus receios e das suas dúvidas, objetos que fazem sempre o assunto principal das conversas de dois amantes.
Estes amiudados encontros e misteriosas conversas não tinham, porém, passado despercebidos a meia dúzia de vistas curiosas e de espíritos chocarreiros, nascendo daí umas certas conversas em voz baixa, que principalmente as mulheres trocavam quando à noite se juntavam às portas umas das outras ou se encontravam casualmente.
O que sem dúvida já de há muito se dizia, em voz alta e sem rebuço, era que a Rosa namoriscava o filho do Capitão, como chamavam a Fernando.
As relações dos dois jovens eram, pois, já sabidas por toda a aldeia e isso dava motivo a ditos e comentários mais ou menos maliciosos, mas quase sempre malévolos.
Os invejosos e maldizentes, falando dos amores de Rosa, concluíam sempre as suas conversas com sentenças como esta:
- Chegou ao que queria. Os rapazes da lavoura já lhe não serviam: agora porém, deve estar satisfeita: um morgado rico, e além disso cirurgião, não era coisa para desprezar.