CAPÍTULO 3 Fernando era inegavelmente um belo e simpático rapaz. De estatura um pouco mais do que regular, tinha o rosto levemente anguloso, a tez branca, tendendo um tanto para o pálido, os olhos grandes e expressivos, os cabelos pretos e naturalmente anelados, e o pequeno bigode, da mesma cor dos cabelos, era luzidio e nédio como uma tira de azeviche.
Além destes dotes físicos, que de per si já o recomendavam aos olhos de qualquer filha de Eva, Fernando, que possuía formas bem contornadas tinha um gosto particular no modo de trajar, era engraçado no dizer, e um desafetado abandono nos movimentos completava os predicados necessários para o extremarem da trivialidade de certo dandismo que nem se aprecia pelos dotes do corpo nem pelos do espírito.
No primeiro domingo que sucedeu ao dia da sua chegada, foi ele, em companhia dos seus pais, ouvir missa à igreja da aldeia, e tornou-se por essa ocasião o alvo de todas as atenções e de todos os elogios do povo da freguesia, que aí estava reunido.
Era isso sempre de costume todas as vezes que o jovem vinha de férias, com a diferença, porém, de que havia dois anos, última ocasião em que estivera na aldeia, não apresentava ele um desenvolvimento de formas e de atrativos como agora.
A Rosa do Adro não foi também nesse dia indiferente à admiração geral, e por entre os grupos de povo que coalhavam o adro, lançou um olhar furtivo para a graciosa figura de Fernando, que se destacava no meio de toda aquela gente, e não pôde deixar de comentar de si para consigo:
"É na verdade um bonito rapaz!..."
Mas, dito aquilo, os olhos distraíram-se-lhe imediatamente para as outras pessoas, e nem o coração nem a mente sofreram o mais leve abalo com aquele pensamento que, como um raio, lhe atravessou a imaginação.