CAPÍTULO 12 A baronesa de F... , viúva de um brigadeiro que por mais de uma vez derramara o seu sangue no campo da batalha em defesa da Pátria, era uma senhora de perto de sessenta anos, de cabelos um pouco nevados, rosto sereno e franco, boca risonha, transpirando sempre da sua fisionomia um ar de satisfação e de bondade que bem patenteava os dotes da sua boa alma.
Casara aos vinte e cinco anos com o barão F... , então cadete no exército e filho de uma nobre família da província, da qual, como filho único, herdara uma boa fortuna, e desse consórcio houve três filhos, dois dos quais morreram em tenra idade, ficando apenas o mais novo deles, que era uma galante menina chamada Deolinda.
Alguns meses depois do nascimento da criança, a baronesa recebeu um dia a triste notícia de que o seu marido, então brigadeiro, morrera atravessado por uma bala inimiga, legando-lhe, além dos seus muitos haveres, o brasão ilustre dos seus antepassados, dos quais sua filha era única vergôntea.
Desde logo a baronesa foi fixar a sua residência na aldeia onde encontrámos a Rosa do Adro, e aí viveu durante alguns anos num a propriedade sua, datando dessa época as relações da filha da baronesa com Rosa, depois do que regressaram as duas senhoras ao Porto, onde se estabeleceram definitivamente.
A baronesa, no Porto, vivia num a elegante habitação, um pouco afastada do centro da cidade, e por isso desligada do grande mundo, não porque os seus haveres não lhe permitissem ombrear com as principais famílias, mas porque, votada de há muito a uma existência quase monótona e sem fausto, aprazia-lhe mais aquela solidão do que o bulício dos salões.
Sua filha Deolinda, então já senhora dos seus vinte e três anos, era uma dessas compleições delicadas, franzinas, cheias de amor e suavidade.