CAPÍTULO 11 Estava quase terminado o tempo das férias escolares, e chegara o dia em que o jovem estudante devia regressar ao Porto a fim de concluir a sua formatura.
Era, pois obrigado a deixar por alguns meses o lar doméstico, aquelas campinas, e sobretudo Rosa, a quem prometera a sua mão.
Devia ser bem triste aquela despedida!
E Rosa? Que sucessos se deram durante o tempo que mediou entre a horrível noite de tempestade e a hora do apartamento? perguntar-me-ia decerto o leitor. Eu lhe conto.
Rosa, aquela encantadora rapariga, de olhar vivo e penetrante, de faces rosadas, e cujos lábios, sempre entreabertos por um sorriso provocador, pareciam a cada passo dizer quanta felicidade lhe ia na alma, já não era a mesma de outrora!
Dir-se-ia, ao vê-la agora, que um pesar bem profundo lhe anuviara para sempre a existência, e que, com a cor de rosa que se lhe esmaiara nas faces, tinha também fugido a alegria do coração.
A travessa costureira vivia agora como escondida das vistas do mundo.
Do rosto fugira-lhe aquele ar de satisfação, assim como o carminado da cútis; os olhos, outrora brilhantes, tornaram-se de uma languidez e insensibilidade espantosa, e os lábios nacarados, que pareciam a cada instante pedir beijos, estavam agora secos e desbotados como as pétalas de uma rosa crestada pelo sol; finalmente, aqueles louros cabelos, que ela caprichava em trazer sempre nédios e penteados, viam-se em desalinho e eriçados pela falta de cuidado. No próprio vestuário se notava um certo desleixo que nunca se lhe vira; já se não adornava com os vestidos e corpetes garridos e alegres, que dantes desafiavam a atenção das outras raparigas, e uma saia escura e um lenço da mesma cor vieram substituir aqueles antigos enfeites que tanto faziam sobressair a sua beleza.