CAPÍTULO 13 Depois da partida de Fernando para o Porto, Rosa, que até aí já vivia uma vida monótona e retirada, tornara-se depois disso mais sombria e reclusa.
Saía só em casos de muita necessidade, respondia com seriedade, e às vezes até com mau modo, aos gracejos que os rapazes da aldeia lhe dirigiam quando a encontravam, e, para evitar os olhares curiosos dos que passavam, mudara o seu lugar de trabalho para uma outra janela que dava para o quintal.
Aos domingos de tarde, como era costume, os rapazes e raparigas do lugar reuniam-se no adro, quase em frente da sua casa, e, aos sons de uma viola, passavam horas alegres em descantes e bailados, divertimentos outrora tão favoritos da travessa rapariga e nos quais tomava sempre a mais ativa parte.
Agora, porém, sucedia o contrário. Ou encostada ao peitoril da janela, ou sentada na soleira da porta, Rosa olhava tristemente para aqueles folguedos, e, se algum jovem vinha convidá-la para tomar parte no passatempo, respondia simplesmente:
Desculpe, mas não posso: a minha doença não me permite, como dantes, brincar como vós outros.
Se algumas raparigas iam, em alegre magote, reunir-se-lhes em volta para conversarem sobre os seus namoros, sobre as suas conquistas ou aspirações, Rosa tomava então parte nessas confidências, mas fazia-se sempre notar pelos conselhos que dava às menos experientes e pelas sentenças que ministrava, com toda a seriedade, às mais experimentadas.
Rosa, finalmente, já não era a rapariga folgazã e prazenteira de outro tempo. Com o rosado das faces fugira-lhe a alegria do coração.
Toda a gente da aldeia acreditava que a pobre rapariga padecia e padecia muito, mas ninguém tinha sabido ainda qual era o género de moléstia que a fazia definhar.