CAPÍTULO 19 São decorridos cerca de trinta dias depois das cenas que deixamos descritas.
No mesmo quarto onde havia perto de um mês se finara o esposo de Rosa e sobre o mesmo leito onde o seu corpo repousara por alguns dias, dava-se quase uma cena idêntica àquela que então ali se passou.
Rosa, a bela e alegre rapariga de outrora, o enlevo dos rapazes da aldeia, jazia como inanimada sobre aquele mesmo leito onde seu esposo exalara o último suspiro.
Conhecia-se que havia ainda alguma vida naquele coração, morto de há muito para as alegrias do mundo, pelo arfar compassado do peito e pelo olhar já amortecido.
O rosto, esse, nem o colorido afogueado da febre o animava.
Próximo do leito achavam-se postadas, guardando religioso silêncio, duas mulheres de idades bem diferentes: uma, ainda nova, era Deolinda, a filha da baronesa, que, depois da morte de Fernando, instara com a sua mãe para ali ficarem mais algum tempo; a outra, já de avançada idade, era a pobre avó da doente.
Ambos aqueles entes, desde que Rosa piorara, o que havia sucedido três dias antes, não se tinham separado do leito sequer um instante, esforçando-se cada qual em lhe velar os últimos momentos da existência.
Rosa, desde a morte do marido, não deixara, enquanto pudera, de ir todos os dias rezar junto à sua campa, e derramar sobre ela algumas lágrimas, conforme a promessa que lhe fizera.
Havia, porém, três dias, que não pudera cumprir aquele seu derradeiro desejo, porque o estado da sua saúde chegara ao último extremo.
A pobre rapariga esperava com resignação de uma mártir a sua hora suprema, e do íntimo da alma só pedia a Deus que lhe abreviasse os sofrimentos, para mais depressa se ir unir àquele a quem tanto amara no mundo.
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