CAPÍTULO 10 Iam decorridos trinta e tantos dias depois dos sucessos que deixamos descritos.
Os dois jovens continuavam a amar-se com todas as loucuras e enlevos de uma paixão sempre crescente, e as entrevistas noturnas que nem uma só vez se interromperam, contribuíram em grande parte para o desenvolvimento desse amor que refervia de hora para hora naqueles dois corações anelantes de felicidade e de vivas sensações.
Na aldeia já se não falava nesses amores, porque de há muito ninguém vira mais Fernando falar com a bela rapariga, e esta, pela sua parte, empregava todos os meios para fazer acreditar que tais relações tinham acabado. O que ainda alguém notava era o recato e recolhimento em que a bela aldeã vivia, desprezando sempre quaisquer convites que lhe faziam para ir a este ou àquele divertimento, mas todos atribuíam isso ao seu génio altivo e vaidoso.
Eram, pois, completamente ignoradas na aldeia as relações de Fernando com a Rosa do Adro, e só uma pessoa sabia delas, mas essa guardava o maior segredo e discrição a tal respeito.
Essa pessoa era o jovem do padre, que, firme no seu propósito, seguia passo a passo todas as minudências e peripécias dessas relações.
Todas as noites saía de casa do seu amo sem ser visto, ia colocar-se, à hora determinada, umas vezes atrás de uma parede, outras oculto pela sombra das árvores do caminho que conduzia ao pinhal que ficava na retaguarda da habitação de Rosa, e aí esperava a passagem de Fernando. Seguia-o depois a uma certa distância com todas as precauções para não ser pressentido, e, chegado ali, ia ocultar-se por detrás do muro que estava próximo do local em que os dois amantes costumavam ter as suas entrevistas, não perdendo a mais insignificante palavra da conversa que havia entre eles.