Eurico, o Presbítero - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 97 / 186

— Porque é o segredo mais santo da minha alma — interrompeu com veemência o cavaleiro —; segredo que esta boca nunca revelará na terra.

— Nem eu o exijo: longe de mim tal intento. A carta que me trouxestes de Teodemiro me assegura que sois um nobre gardingo: tanto bastou para que vos recebesse entre aqueles com quem reparto a minha caverna de foragido. Nunca vos perguntei, sequer, porque abandonastes um homem que de suas palavras vejo vos amava como irmão.

— Oh, quanto a isso, dir-vo-lo-ei — atalhou de novo o guerreiro, pondo a mão sobre o punho da espada. — Foi porque eu o cria um anjo de virtude e esforço, e ele era apenas um homem! Foi porque a paz que pactuou com os muçulmanos honrosa aos olhos do vulgo, era, a meus olhos, infâmia. Paz com o infiel? Ao cristão só cabe fazê-la quando dormir ao lado dele sono perpétuo no campo de batalha; quando, ao lado um do outro, esperarem ambos que as aves do céu venham banquetear-se em seus cadáveres. Antes disso não a compreendo. Disse-lho, sem cólera, sem injúrias, ao abandoná-lo para sempre. Nesse momento algumas lágrimas correram destes olhos; porque a alma de Teodemiro era a última em que morava um afecto que respondesse aos meus: era o último templo em que me sorria a esperança!

E as lágrimas que ele dizia haver derramado nessa triste separação corriam, de novo, quatro a quatro pelas faces do guerreiro.

Apenas o gardingo proferira estas derradeiras palavras, o clarão avermelhado da lareira bateu subitamente no vulto agigantado de Gutislo, que surgira à boca da gruta e parecia hesitar se devia ou não interromper o diálogo dos dois guerreiros.





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