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- Não se trata disso agora... - atalhou D. Eugénia, compadecida do angustiado aspeito da irmã. - Olha se mandas algum criado indagar o que se passa... É impossível que os Monizes não fugissem de casa assim que começou o fogo!
Luís Pimentel saiu da antessala, e encontrou fora o pai, que lhe disse mal encarado:
- Não nos convém cá esta mulher!... Vês o exemplo na casa dos Monizes? Pois conta com o abade à frente dos salteadores, assim que lhe rosnar a estada da filha aqui. Vai pensando em mudá-la, que eu testilhas com o pai não as quero, e principalmente agora, que ele levanta consigo trezentos homens na Beira, se quiser.
- Mas que se há de fazer a esta pobre senhora, que para além do mais é minha cunhada e sobrinha do meu pai?
- Não sei; não quero saber. O que tu sabes é que o abade nos ameaça; e logo que se lhe abra ocasião, vinga-se de ti, que o trataste mal, e havemos todos de pagar os teus arrufos. Ora faz de conta que o Bernardo Moniz, à conta de estar aqui tua cunhada, se nos mete pela porta dentro!
- Isso de modo nenhum! - protestou Luís Pimentel. - Mando-o escorraçar pelos lacaios se cá vier... Mas o pai pensa que ele, se escapasse hoje, põe mais o pé nestes sítios? Das duas uma: ou se desterra, ou se deixa enforcar.
A ponto chegou um criado dos Pimenteis, que vinha de espreitar de longe o incêndio e a peleja na casa da Fonte. Contou o que ouvira dizer aos convizinhos dos Monizes: que o entulho da capela sepultara três cadáveres; que no eirado estavam dois, e outro numa loja de todo carbonizado, sendo um dos mortos Bernardo, e o outro Francisco Moniz.
Pimentel subiu a informar a esposa; mas tão sem piedade da cunhada falou em voz alta, que Ricardina, atenta ao mínimo rumor, escutou e ouviu.
- Que foi? - exclamou ela correndo em vertiginosos saltos para o primo.