O Sr.
Abade respeitará Vossas Senhorias; e aos pobres padres filhos de lavrador é capaz de os fazer em postas. E que gente ele lá tem azada para o efeito! O Rolhas, e o Cambado de Midões, não falando no Norberto Calvo, que é capaz de dar um tiro no nosso Senhor Jesus Cristo!
Ricardina levantou os olhos contra o padre, e abaixou-os sustendo a custo o impulso que a instigava a defender o protetor de Bernardo. Eugénia, ouvidas as explicações, olhou para Luís Pimentel.
- Bem. Queira entrar, prima Ricardina - disse ele. - Depois veremos o que há de fazer-se no seu benefício.
O padre deu de esporas, contente do desempeço da desonesta. Eugénia tomou o braço da irmã e conduziu-a a uma saleta, onde Luís as seguiu.
- Como estava a prima Ricardina em casa de Silvestre? Nós pensávamos que tivesse ido para Coimbra... - disse Pimentel.
- Vim de Coimbra antes de ontem - respondeu a cunhada.
- Com Bernardo Moniz?
- Não.
- Seria certo, como dizem, ser ele um dos assassinos dos lentes?
- É mentira.
- Mas há ordem de prisão em Viseu para ele e para os irmãos.
Ricardina rompeu em choro desfeito, pedindo ao primo que lhe soubesse alguma coisa de Bernardo.
- Mas ele está na casa da Fonte? - perguntou o primo.
- Sim, está.
- E quando chegou?
- Antes de ontem à noite.
- A prima está casada com ele?
- Ainda não - respondeu Ricardina.
- É admirável!... - disse Luís. - Um homem de tal nascimento que esperava? A Sr.ª D. Ricardina estaria no caso de ser a manceba de um filho de Silvestre da Fonte?! Agora compreendo o motivo da vingança do seu pai.... O que Bernardo imediatamente devia fazer, se fosse homem de tino e de coração, era, à custa de muitos contos de réis, casar-se com a senhora, para evitar desgraças e escândalos; ir a Roma, se fosse necessário, e pedir ao Santo Padre que os casasse.