Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 16: CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO!

Página 110
- Mataram o Bernardo? Que disse aí, primo?... Mataram-no?

- É o que me contou agora um criado que vem de lá - respondeu placidamente Luís.

Ricardina expediu, uns após outros, espantosos gritos, sem palavra articulada. Remessava-se de ímpeto contra as portadas da janela, impulsada pelo intento do suicídio. Retrocedia repuxada por Eugénia, cujos braços cediam ao debater-se frenético da irmã. Luís Pimentel, mais cauto que condoído, pedia-lhe que não desse tamanhos brados. A infeliz não dava tento da observação: sobrava-lhe infernos para que na sua alma não coubesse mais aquele espicaçar afrontoso do bárbaro que a mandava sufocar os gritos. Eugénia fitava o marido com reprovador silêncio, quando ele trejeitava em sinal de aborrecido de tais lástimas. Sebastião Pimentel bufava de raivoso contra a vergonha de se estar carpindo na sua casa a envilecida amante de Bernardo Moniz, do filho de Silvestre da Fonte, do antigo pastor de cabras... que lhe rejeitara sua filha Matilde.

Quem não viu, nem quis ver Ricardina, foi Carlos Pimentel, o noivo repelido. Ouvia-lhe os clamores, e fechava os ouvidos para não lhos ouvir. É que na sua alma, onde uma vez se abrira a imagem de Ricardina, sombra de outra imagem, não pudera ainda delir-se-lhe a saudade.

Caiu alfim sucumbida. Já não se lhe ouviam sequer os soluços. Devia de estar exulcerado aquele seio que espirara fogo. Caiu aos pés da irmã, que a não pôde amparar no baque. Levantaram-na sem acordo. As faces estavam frias; mas as lágrimas deslizavam ardentes do rescaldado sangue que lhe arfava nas veias do colo.

- E se ela morria... - exclamou Eugénia lavada em lágrimas.

- Era uma felicidade para ela e para nós - disse de si consigo Luís Pimentel.

Desculpe-se-lhe o mental solilóquio.

<< Página Anterior

pág. 110 (Capítulo 16)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 110

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177