Norberto era auditório indigno do trágico monólogo. Esbugalhava os olhos a ver se lhe atinava com o intento, ou, mais sobre o certo, imaginava o que havia de fazer para arrancar Ricardina de casa dos Pimenteis. O que mais lhe urgia era poder falar-lhe ou conseguir que a mãe a visse. Aproveitando o lanço favorável, enviou a velha à Reboliça. Era já noite. A velha voltou dizendo que todas as portas estavam trancadas. Norberto saiu, fora de horas, e afoitou-se a vizinhar das solarengas torres dos Pimenteis, afortalezadas com duas peças de artilharia e as suas atalaias que sobrerroldavam, na incerteza do ataque. A distância de vinte passos trovejaram-lhe um quem vem lá! Como ele não respondesse, silvou-lhe uma bala por cima da cabeça, escodeando a cortiça de um sobreiro, cujas lascas lhe roçaram as barbas. Desanimou Norberto Calvo, e retrocedeu dizendo entre si:
- Se estes diabos me matavam, quando eu ando aqui só para fazer bem!
Ao outro dia, Sebastião Pimentel, intimados os caseiros para guarnecerem a casa, enviou um mensageiro ao abade com a seguinte nota: “Que D. Ricardina de Queirós já não residia naquela casa. Que o entregarem-na a um pai cego de ódio seria ação reprovada e indigna de Pimenteis. Que o conservarem-na, também impugnava ao seu pundonor. Pelo que, deliberaram enviá-la para mais de cinquenta léguas de distância, e tomavam ao seu encargo dar-lhe os necessários alimentos, no mosteiro onde ela provavelmente ia recolher-se.