O Retrato de Ricardina - Cap. 21: CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS Pág. 134 / 178

- Obrigado! - disse Alexandre - não me despeço do favor.

Sem embargo, continuou a coligir subsídios para a Legislação da Península Hispânica, e a escrever artigos que os acionistas da gazeta começavam a classificar de maçadores razão de muito recheados de erudição e borbulhas em latim que comiam na paciência de quem lia. Avisaram-no os colegas.

Alexandre lembrou-se de que tinha mãe. Aceitou a correção, e expurgou os seus artigos de latim, e de tudo que trescalasse à podridão da sabedoria. Deram-lhe os emboras pelo progresso, e aumentaram-lhe quatro mil e oitocentos réis à mensalidade.

- Minha mãe! - exclama ele - já sei como se vai ao Potosi, sem sair da Rua dos Calafates. À proporção que eu me for bestificando, aumentam-me o salário. Peça a Deus que me faça trevas na cabeça com a rapidez com que fez a luz. Ó malditos diplomas, que viestes provar que eu não era um parvo! Onde estaria eu agora, se esses cinco papéis não trouxessem estampada a minha incapacidade! Cada nova prova de tolo que eu for dando rende-me oito vinténs por dia!

Começava-se a nomear o incógnito redator de certa gazeta. Grassava o boato de que ele era uma singular criatura que lia as obras dos historiógrafos de Espanha do século XI, em latim! Os que falavam piormente português chamavam-lhe excêntrica, talento aproveitável que se estava abastardando em leituras capazes de encruar o estômago de um ogre. Os seus contemporâneos filhos de Lisboa, tinham-se desviado dele; porque é lícito a todo o homem cortar as suas relações com pessoas mal enroupadas num casaco indicativo de precisar reforma. Não no faziam por mal: é costume de Lisboa, à competência com as usanças de toda a terra em que o pano coçado, se bate de chapa nos olhos, é mais oftálmico do que as flechas ardentes do Sol a pino.





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