mãe as primeiras seis moedas, das quais deviam duas na tenda e duas no empenho de alguns cobertores, exclamou:
- Abençoados diplomas! Neste país só é pobre quem não teve cinco prémios na Universidade!
D. Ricardina chorava porque os olhos do filho reluziam envidraçados de lágrimas. Ao segundo mês, Alexandre vestiu-se na Rua dos Algibebes, e obteve advogado famoso que o admitisse à prática. Frequentou o escritório assiduamente três semanas, e não voltou.
- Porque não vais, filho? - perguntou D. Ricardina.
- É vida que me não serve, minha mãe. A moeda que se bate no balcão dos curadores da Justiça queimar-me-ia os dedos. A minha ambição fica muito aquém da infâmia que entesta com a mediania. Imaginemos que seis moedas mensais são a riqueza de uma consciência sossegada. Vivamos assim... Ando agora a pensar em escrever livros. O pior é que não tenho uns que me era necessário ler... Começo amanhã a ir estudar na Biblioteca, onde se lê de graça.
- Mas que livro vais tu escrever, filho?
- Eu sei cá! A história universal do mundo, e de outras partes mais.
- Isso é graça, Alexandre!
- É desgraça, minha mãe!
Começou o bacharel a folhear livros enormes na Biblioteca e a respigar apontamentos para um livro que devia intitular-se: Legislação da Península Hispânica. Um seu condiscípulo, a quem ele comunicou o intento, avincou o nariz profético e disse:
- Ninguém te compra isso.
- Não?
- Palavra que não!... Sabes fazer novelas?...
- Eu sei cá!... Novelas!
- Se não sabes, traduz do francês. Era empresa de dar dinheiro uma tradução barata das obras completas de Paul de Kock, em voluminhos de oito vinténs. Pode ser que eu te arranje editor aí a quatro moedas o volume, se não puderes publicar pela tua conta.