- Não sei, não quero saber disso - contrariou a viúva. - Diga-lhe a verdade, e esconda-lhe o que somente for necessário... Não lhe diga o nome do pai pois não é assim?
- Não sabe, minha sobrinha, quanto é singular o carácter do meu filho... Perderei eu do seu amor por lhe ter mentido?
- Isso pode lá acontecer, tia Ricardina!... Estou doida - prosseguiu em desencadeadas ideias a viscondessa. - Estou doida!... A minha tia!... e ainda tão bonita!... Bem me dizia minha mãe: “Se tu visses tua tia Ricardina, verias a mulher mais formosa do mundo.” E depois de tantas amarguras, estar assim, que não representa mais de trinta anos!... Quantos tem meu primo?
- Vinte e dois, minha querida Matilde.
- Que prazer me deu agora! - exultou a viúva abraçando impetuosamente a tia. - Olhe que ainda me não tinha tratado por tu... Tem então meu primo Alexandre vinte e dois anos?
- Vinte e dois.
- E eu vinte, e mais dois meses. Veja lá, minha tia! E já viúva... Não lhe parece que tenho trinta anos?
- Não, criança!
- Imagina lá quanto eu tenho padecido desde que me sacrificaram... Estou rica; foi para isto que me casaram... Que aconteceu? Perdi a amizade do meu pai, porque fui eu a primeira a abominar o despotismo, a violência com que me repeliu de si. Depois...
- Está a caleche pronta - avisou a criada.
- Vamos, vamos! Ah!... espere.
E chamando a criada, juntou:
- Vai buscar o meu casaco de veludo preto para a minha tia, que está frio.
- Para quem, Sr.ª. Viscondessa?
- Para minha tia Ricardina, que é esta senhora... Depressa.
A viscondessa, em verdade, representava uma menina de 10 anos, sem poder sofrear os raptos da infantil alegria.