Às primeiras alvoradas do seguinte dia, após quatro horas de prática entre as duas senhoras e Alexandre, o filho de Bernardo Moniz sabia o nome do seu pai, e a minudenciosa história de Ricardina, desde os 18 anos. O dissabor de ter sido inutilmente enganado pela sua mãe era grande e até certo ponto justo; não obstante, o respeito filial aconselhou-o a dar como justificados os receios de Ricardina, quanto ao opróbrio cominado pela sociedade ao filho de um suposto assassino dos dois lentes de Coimbra.
Para Alexandre, a certeza que a sua mãe lhe dera de inculpabilidade de Bernardo Moniz não era jurídica e racionalmente bem provada. A juízo dele, a culpa dos que não ensanguentaram suas mãos na carnificina era menor, sem deixar de ser grande. Dizia ele, passados dias, que a memória do seu pai estava sempre denegrida, porque não lha podia ele reivindicar. E dizia-o profundamente magoado, depois de ter ouvido as tradições, os processos ainda existentes, e os insuspeitos esclarecimentos dos contemporâneos.
Os primeiros tempos de transformação na existência das duas famílias passaram na ora doce, ora amarga intimidade de mútuas revelações. A viscondessa contava a sua tia as coisas ignoradas, quanto ao fim do seu avô, o deão, cuja morte, em Roma, Ricardina tinha lido num periódico brasileiro da sua mãe referia as angústias dos últimos tempos, a separação violenta, motivada pelas infamadas tradições da sua avó.
Então, Ricardina pintava com vivas cores, realçadas pelo choro, a morte da sua mãe no Convento das Chagas, e pedia a Deus que melhorasse a condição do inexorável mundo que não perdoava às desgraçadas, remidas pela contrição e pelas agonias resultantes dos delitos da juventude.