O Retrato de Ricardina - Cap. 26: CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO Pág. 164 / 178

No dia seguinte, Paulo de Campos anunciou-se ao marido da viscondessa da Gandarela. Foi introduzido numa espaçosa biblioteca, onde, pouco depois, entrou Alexandre. Conversaram largamente sobre variados assuntos. Mostrou o literato a suma dos seus trabalhos já feitos e os vastos apontamentos indiciativos do muito que restava elaborar.

Paulo de Campos, maravilhado, perguntou:

- Que anos tem Vossa Excelência?

- Vinte e dois e alguns meses.

- Quando se formou?

- Em 1850.

- Deve ter estudado prodigiosamente! Acho em extremo temporãs as suas tendências para tão graves estudos! É de supor que a Universidade atual facilite a ciência, mais francamente do que no meu tempo, em que os mais aplicados raro transcendiam os limitados horizontes do compêndio.

- Em que anos frequentou Vossa Senhoria? - perguntou Alexandre.

- De 23 a 28...

- 1828? - atalhou o escritor com veemente interesse. - Então foi contemporâneo daqueles desgraçados que mataram os lentes?

- Sim, senhor.

- Conheceu alguns?

- Quase todos.

- Lembra-se dos nomes?

- Talvez... Conheci o Reis, o Mansilha, o coiceiro, Matos, o Carneiro, e outros.

- Vejo que se lembra dos que morreram enforcados; mas alguns fugiram.

- Assim ouvi dizer.

- Dos que fugiram, conheceu o Moniz?

- Sim, senhor.

A fisionomia de Paulo de Campos resistiu aos movimentos do coração.

- Conheceu-o? Tratou-o pessoalmente?

- Creio que sim... É vivo?

- Nada, não: mataram-no; mas motivos de outra ordem, segundo se conta. Queira dizer-me: Vossa Senhoria nunca pensou na possibilidade de reabilitar a memória desses infelizes doidos?

- Penso que a maior esmola que pode fazer-se à memória deles é esquecê-los. E vossa Excelência julga outra coisa, ou tinha





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