Resolvidamente lho declarou assim a ela, despedindo-se em reportados termos e sublime conformidade com os desígnios do Altíssimo. Redarguiu Ricardina, reprovando-lhe o intento. “Eu não vou por vontade para a clausura”, escreveu ela. “Vou constrangida: nunca me hei de arrepender de um passo que sou obrigada; mas tu sacrificas-te sem com isso melhorar a minha sorte. Eu ia com esperanças de ver-te. Se vais para o convento, acabou-se-me tudo. Peço-te que não vás. Não sei o que me diz o coração...”
Ao outro dia, por tarde, chegou o padre Botelho de Queirós, e procurou Norberto antes de perguntar por Clementina.
- Não há novidade. - disse o criado. - Rondámos desde as nove da noite, ora um, ora outro, até ao dia. Cá em casa não entrou fôlego vivo, e as fidalgas nem às janelas foram, que eu visse.
- Está bom.
As meninas saíram ao patim da escada a beijar-lhe a mão. Cedeu-a com repugnância a Ricardina, e afagou as faces da outra.
Ceou bem assombrado, e não releu o livro do sei Fr. Mateus Brandão contra o ateu Gomes Freire: não leu nada, nem o breviário. O abade de Espinho, quanto crenças religiosas, era ultraliberal, tirante certas superstições, que essas eram arquiestúpidas. Dialogou assim com D. Clementina:
- E então? A rapariga? Mudou?
- Não.
- Que lhe disseste?
- Nada. É escusado pregar-lhe. Quer ir para o convento.
- Depois de amanhã. Ficou alguém encarregado de tirar as licenças do bispo de Lamego.
- Ela vai para Lamego?
- Sim, vai para o Convento das Chagas.