Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: CAPÍTULO VI – AGONIAS

Página 37
Tem um ano de noviciado. Espero que não chegue a professar. O caso lá muda de figura.

- Não chegará a professar, não... Morrerá antes...

- Deus se compadeça da sua alma. Antes a quero morta que mulher do filho do Silvestre da Fonte. Os mortos não envergonham os vivos...

- Despedaçam-nos com saudades - atalhou D. Clementina.

- Quando os vivos têm poucos brios.

- Os brios... os brios... - disse ela sorrindo tristemente.

- Sim, os brios! Que tem?

- Os brios de mãe... não o coração, Leonardo.

- E a darem-lhe com o coração!... Querem governar o mundo com o coração!... A cabeça já passou de moda!... Pois, senhora, eu tenho cá uma regra invariável... Filha desobediente perde o direito à estima dos seus pais.

- E não perde pouco... Perdi-a eu... e sei quanto perdi...

- Pois por isso mesmo - recalcitrou rudemente o desavergonhado abade - , por isso mesmo. Vives mal? Estás arrependida? Mais uma razão para que enfreies as liberdades da tua filha; que não vá acontecer igualar-se contigo na sorte.

- Deus a mate! - exclamou a senhora, afogada de soluços.

- Está bom! Está bom! - rezingou o padre. - Nada de choradeiras intempestivas. O mal feito fez-se; o mal possível prevê-se e remedeia-se: é o que eu faço.

- Bem! - disse serenamente D. Clementina, sopeando a dor. - Queres que eu a previna?

- Está claro. Amanhã chega a liteira; depois de amanhã faz jornada.

- Quem vai com ela?

- Tu e dois criados. Lá estão em Lamego os meus primos encarregados de a receber e levar ao convento.

- Não me dispensas de ir a mim?

- Não. É necessário. Quem há de ir? Bem sabes que não conhecemos senhora nenhuma no caso.

- Mas eu não posso suportar a dor da separação! Como hei de eu despedir-me da minha filha?!

- Aí tornas tu com lástimas de carpideira! Forte zanga! As mulheres parece que trazem as lágrimas numa bilha!

- Deixa-me chorar, Leonardo! - clamou ela pondo as mãos.

<< Página Anterior

pág. 37 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177