- E não diz nada ao pai, não, minha mãezinha? - condicionou Eugénia.
- Mas que segredos podem ser esses que o pai não deve saber?
- Ah! vês? - exclamou Ricardina. - Bem to dizia eu.
- Pois está bom - disse a mãe. - Se o que for puder passar sem o pai saber, não lho digo. Que mais quereis, meninas?!
- Então... digo? - perguntou Eugénia à irmã.
Ricardina abaixou os olhos, aplaudindo com o silêncio a revelação.
Começou Eugénia a contar que a sua mana ficara apaixonada por Bernardo Moniz, desde que o viu. Atalhou logo a mãe:
- Mas ela só o viu duas vezes!... Como se apaixonou depressa!
- Viu-o mais vezes, minha mãe... - contestou a cândida narradora.
- Cá em casa?
- Não, senhora... Via-o acolá em frente nos montados, por onde ele andava a caçar, e via-o na igreja aos domingos. Ele também se apaixonou por ela.
- Como soubeste que ele se apaixonou por ti, Ricardina? - interrompeu a mãe. - Quem to disse? Escreveu-te?
As duas meninas mutuaram um relance de olhos consultivos.
- Assim como assim, o melhor é dizer tudo... - deliberou Eugénia. - Escreveu, sim, senhora.
- Quem trouxe a carta?
- Ninguém.
- Ninguém! Essa é boa!... Então a carta veio sem ninguém a trazer?
- Nós chegámos à janela do mirante ao fundo do passai, quando vimos a carta entre as roseiras que fazem o pavilhão da janela, e vimos Bernardo da parte de além do ribeiro a olhar para nós. Foi ele que lá pôs a carta, quando nos ouviu rir por debaixo da parreira, e supôs que nós íamos para o mirante.
- E depois? - animou a senhora a narrativa, simulando sossego e nenhum espanto do acontecimento. - A carta que dizia?
- Muita coisa. A mãe verá.
- Isso quando foi?
- Há mês e meio, quando ele veio a férias de Páscoa.