.. darei a resposta noutra ocasião.
- Deixo - acedeu o abade. - Responderás quando quiseres.
Os primos retiraram-se.
- Aqui há história... - segredou o abade a D. Clementina. - Que sabes tu do coração desta rapariga?
- Nada.
- Nunca desconfiaste que ela se inclinasse ao Bernardo Moniz?
- Não. O Bernardo veio aqui visitar-nos nas férias do ano passado, porque tu o visitaste quando chegou de Coimbra. Depois veio despedir-se, e...
- Sei isso - atalhou o padre, comprimindo com o dedo indicador a asa nasal direita, e assestando à esquerda a pitada de grandes bordos. - O que eu sei, não preciso que mo digas. Não sabes mais nada?
- Mais nada... e tu?
- Se o soubesse, não to perguntava. Mas creio que há mais alguma coisa.
- Que há-de ser.
- Não sei; incumbo-te de o indagar. Não indago, porque as mulheres é que sabem o segredo de certos escaninhos do coração. Anda tu lá, e olha se te sais bem.
Clementina foi dar com a filha a chorar ao pé da irmã.
- Que tens tu, menina?! - perguntou a mãe enquanto Ricardina retraía a face, escondendo-a com o disfarce de andar alporcando os craveiros da sua varanda. - Estavas a chorar?
- Eu, mãe?
- Sim, tu... Deixa ver os olhos... Ora, se choravas! Pois eu não vi? A tua irmã que tem, Eugénia?
- Nada.
- Não mintam, meninas! Não se engana a sua mãe. Muitas coisas podem as minhas filhas esconder de mim; lágrimas é que não... Vem cá, Ricardina, porque choras?
A interrogada olhou para a irmã como a consultá-la ou a pedir-lhe que a não descobrisse. Eugénia entendeu a primeira conjetura, e disse:
- O melhor é dizer tudo à mãe, não é, Ricardina?
- O quê?... Ora tu!... - acudiu a enleada irmã.
- É melhor dizerem-me tudo, é... - sobreveio a mãe. - Segredos que se escondem de mim, pode ser que sejam inocentes, mas não o parecem.