- E que dizia ele?... Vamos lá...
- Dizia que assim que estivesse formado havia de vir pedir ao pai a mana Ricardina, se ela o amasse e quisesse ser sua esposa.
- E tu querias, menina? - perguntou a mãe com tristeza.
- Eu... se o meu pai deixasse... - balbuciou Ricardina.
- Mas teu pai, filha, não deixa, parece-me a mim. Tiveste uma infeliz inclinação!
- Porquê, minha mãe? - perguntou Eugénia. - Então o Moniz não é uma pessoa digna de casar com a mana?
- É... creio que é; mas... O teu pai nunca se lembrou de tal, e mais achava que o rapaz tinha aparências de bom. Para ele não consentir no casamento, basta saber que o Bernardo se atreveu a escrever-te. Vós não sabeis como é vosso pai, meninas?... Não sabeis, não.
Calou-se reconcentrada D. Clementina, e prosseguiu após longa pausa:
- O vosso pai há mais de três anos que pensa em vos casar com os primos. Quer e não desiste. É lá uma vaidade que ele tem consigo, e já me fez chorar lágrimas que farte por eu lhe perguntar se não havia neste mundo mais homens... Ainda outra coisa, filhas... O vosso pai é filho de um fidalgo distinto, eu nasci numa das casas mais nobres da província, e quer ele que os seus netos possam dizer que são fidalgos por pai e mãe.
- E Bernardo Moniz... - atalhou Eugénia, querendo defender a não ignorada procedência do amador da irmã.
- Bernardo, meninas, é filho de um lavrador pobre, que teve uma herança de um irmão que morreu no Brasil. Quando este irmão morreu, Bernardo estava em Lisboa a estudar para pintor. O pai, assim que melhorou de fortuna, mandou-o chamar para casa, e deixou-o ir estudar para Coimbra e mais dois irmãos. Fez o palacete em que reside agora, e começou a viver à lei da nobreza. Ora aqui tendes quem é Bernardo, se o não sabeis.