- Aqui... - balbuciou ele.
- Venho ver Bernardo... - disse a senhora entrando e subindo ofegante de cansaço.
- Jesus! - murmurou Moniz.
- Que é?! - exclamou ela, aterrada pela hesitação do médico. - Ele está pior?
- Não, minha senhora, não está; mas...
Ricardina subiu pressurosamente as escadas; e, como no primeiro andar ficasse perplexa sem saber por qual dos lados entraria, chamou Bernardo em gritos aflitivos.
O teólogo, que vinha então saindo do seu quarto, deu com ela de rosto, e disse a meia voz:
- Sra. D. Ricardina, entre, entre. O meu irmão não está em casa; mas volta daqui a poucas horas. Peço-lhe encarecidamente que não levante a voz; porque será perigoso saber-se que o meu irmão Bernardo não está em casa.
- Mas aonde está? - murmurou Ricardina a tremer.
- Queira sentar-se e sossegar. Conversaremos de espaço.
- Mas diga-me pelo amor de Deus que é isto? Ele escreveu-me uma carta muito amargurada... Ai! que o meu coração me disse que havia uma grande desgraça.
- Grande desgraça, não, minha senhora - interveio o médico. - O mano Bernardo foi tratar de certos negócios respetivos à política; não podia deixar de ir esta noite; mas na volta das dez horas da manhã está em casa. Descanse, menina. Perigo não terá nenhum, se os seus gemidos não chegarem à casa deste lado, onde moram estudantes, e podem suscitar desconfianças.