Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS

Página 69
Referiu ele que a senhora se afligira com a inesperada notícia; mas sossegara e confiara no médico, rogando-lhe muito que de manhã lhe desse aviso do estado do enfermo. A carta que ela recebeu no dia seguinte escreveu-a Bernardo. No post-scriptum dizia duas palavras das suas melhoras; o restante, que era muitas páginas, continha um pungente recordar-se da sua infância, desde pastorinho de um rebanho do seu pobre pai, desde aprendiz de pintura, através dos anos escuros da sua juventude, alheio das alegrias que o ouro levara à quinta dos seus avós. Que lhe fazia a ele riqueza? Sempre triste e sonhador nos benefícios da morte, sempre a desejá-la, até àquela hora roubada aos prazeres do Céu, se o Céu os tinha iguais à felicidade humana - hora suprema em que ajoelhara aos pés da mulher amada por espaço de catorze anos, primeiro com o amor do inocente, depois com a paixão do homem, arrancado à mortalha de um hábito.

Ricardina leu alvoroçada a longa carta em que apenas se lhe transluzia palavra de esperança. Devia de estar muito escurecida e excruciada de maus presságios a alma que se empenhava tanto em desafogar vagamente angústias sem justificado nem claro motivo! Manteve-se Ricardina todo o dia pensativa e chorosa, ideando conjeturas despropositadas até ao desatino de entrever a possibilidade de ser aborrecida do homem a quem não dava o contentamento absoluto. A suspeita seria incompatível com a inocência, se Ricardina ignorasse do coração humano as revelações que a triste mãe lhe fizera no convento, contando-lhe, com expansão de amiga, o castigo da sua cegueira.

E, como durante o dia não recebesse notícias de Bernardo, nem às dez da noite o médico tivesse ido explicar-lhe a tristeza do irmão, Ricardina, às onze horas, ordenou a um criado que lhe ensinasse o caminho e casa do seu amo.

<< Página Anterior

pág. 69 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 69

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177