- O senhor faz favor de me dizer que terra é aquela onde se vê uma torre?
- Ó Sr. Doutor!... - bradou o assombrado passageiro, deixando cair as bandas do capote. - É Vossa Senhoria?... É o Sr. Doutor?
E, dizendo, apeou de um salto, e correu para Bernardo Moniz que lhe abria os braços, exclamando:
- Tu aqui, Norberto!... Que vens fazer? Onde estamos nós?
- Perto de Condeixa, senhor.
- De Condeixa?! Ó meu Deus! Pois eu estou em Condeixa? Andei mais de três léguas e estou no mesmo ponto donde fugi!
- É meia légua daqui lá... - disse Norberto. - Querem ver que vossa senhoria...
- Acaba, meu amigo!... Perguntas-me se sou um dos desgraçados estudantes que mataram os lentes?
- É que ali atrás encontrei muita gente no sítio onde os mataram, e fui ver o sangue. Valha-me Deus!... Vamos embora daqui, porque andam esses caminhos até Freirigo cheios de povo na cola dos estudantes, e já lá vão para Coimbra nove, que eu ouvi dizer. Salte para cima do macho, Sr. Doutor. Vamos sair da estrada por este caminho de cabras até arribarmos lá prá serra. Ande depressa que não vá o Diabo armar das suas. Vossa Senhoria está a perder a cor... Valha-me S. Pedro.
- Não como há dois dias, sinto-me a desfalecer... - murmurou Bernardo.
- Há aqui que comer, graças a Deus. Os alforges trazem provimento. Toca a sair da estrada, que é o principal.
Bernardo Moniz cavalgou ajudado pelo ombro de Norberto Calvo. Subiram o escarpado trilho por onde o fugitivo descera à estrada, e contornearam a parede de uma devesa de carvalhos até encontrarem passagem para dentro.