Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO

Página 83
Recrudesciam-lhe as angústias; mas as do coração não as sabia extremar das outras. Pendeu a face sobre os joelhos, enclavinhou os dedos sobre a cabeça, e disse entre si:

- Quem me dera morrer...

Nasceu o Sol. Os primeiros raios aqueceram-lhe as mãos. Espertou da letargia, com renovado alento, como se anjos andassem nos infernos desta vida em busca de uns infelizes que Deus ainda não condenou. Ergueu-se cambaleando, encostado às árvores, que o ajudavam a ensaiar as forças. Olhava à volta e ao longe. Quem lhe poderia dizer onde estava? A distância de meia légua viu uns coruchéus de torres por entre nevoeiros. A vinte passos de distância alvejava um trilho de pé posto que descia da serra por entre olivedos, e se espraiava num caminho espaçoso.

- Estou perto de uma estrada e de uma vila - pensou Bernardo. - Perdi-me, provavelmente. Caminhava para a serra, e estou numa chã povoada. Quando sair gente aos campos, serei preso. Mas, se volto a embrenhar-me nas matas, lá me colherá a morte. Que importa aqui ou além?

Viu passar dois caminheiros na estrada. Apalpou as algibeiras. Tinha ouro que chegue para comprar o segredo e a piedade de um pobre. Aproximou-se do caminho. Atravessou-o para um bosquete de olmos. Esperou largo tempo. Ninguém passava. Assomou na revolta da estrada um cavaleiro a trote.

Primeiro, o fugitivo recuou para a espessura dos olmos; depois, sem temor nem alento, levado automaticamente pela indiferença de morte ou vida, aproximou-se da estrada, disposto a perguntar ao viandante que terra era aquela.

O passageiro, a poucos passos de distância, deu tino do outro que o esperava, apoiado o ombro contra uma árvore. Sofreou as rédeas do macho, estacando-o de súbito.

Bernardo Moniz não lhe via senão os olhos; que o viageiro se envolvia num farto capote de saragoça, e as abas do chapéu lhe cobriam os ombros.

<< Página Anterior

pág. 83 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 83

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177