Bernardo encarregou-se de fazer sentinela no ângulo do muro, onde se abria um mirante gradeado sobre o caminho. Por volta da meia-noite, soou-lhe ao ouvido atento uma toada rumorosa de passos e vozes. Deteve-se até divisar os vultos e o lampejar dos cigarros. Acolheu-se então a casa, mandou incendiar as medas e tanger a fogo na sineta da capela. Os salteadores, acaudilhados por Norberto Calvo, estacaram, logo que o rebate e o clarão das labaredas estrugiu e rompeu, simultaneamente.
- Há fogo na casa! - disse Norberto.
- Estamos como queremos! - exultou o Torto. - Eles hão de sair cá fora, e vêm-nos às mãos como coelhos da toca.
- Salta dentro, rapazes! - disse Frazão.
- Tu é que mandas? - perguntou o Calvo. - O patrão deu-me o governo a mim.
- Então que fazes? - disse o temível celerado, apoiado pelos hóspedes do abade.
- Que faço? Estou cá a malucar, que isto não está bom como tu pensas. Daqui a nada está aí povo que se não há de mexer ninguém.
- Isso cá fica pela minha conta - disse um dos sicários de Midões. - Duas balas a cantar-lhe pelas orelhas metem o povo em casa.
- Aqui não há generais nem soldados! - clamou outro da falange em rebelião contra o absolutismo do comando. - Cada qual faça o que quiser; eu vou por aqui.