Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE

Página 98

E, trepando por uma olaia encostada ao muro, saltou das ramadas ao pomar, seguido de todos os seus conterrâneos. Faiscaram duas escorvas nas janelas da casa, e as balas bateram nas parreiras, lascando os caibros.

Os invasores correram a cingir-se com a casa, rodearam-na a coberto da espingardaria, e saíram ao eirado onde ardiam as medas. O rebate continuava, já respondido pelo toque de duas freguesias próximas. No entanto, os três criados da abadia, correndo ao longo da fachada do palacete, entestaram com uma porta estreita, contígua à capela. Os pujantes Frazão e Torto levaram-na às recuadas, quebrando a lingueta da fechadura. Mas, ao entrarem pelo outro lado da eira, afuzilaram três tiros das janelas, e logo o Torto, saltando para trás, disse que uma bala lhe tinha dado na canela. E, ao mesmo tempo, avançando enfurecido, bradou:

- É pr’aqui, rapazes!

Neste comenos, cinco dos de Midões, obedecendo ao conselho de João Rolhas, o mais previsto e afamado em assaltos, remeteram com uma porta, que se lhes figurou a mais fraca. Era, com efeito, a entrada do palheiro. Ao segundo embate as almofadas racharam. Um deles meteu o braço e levantou uma aldraba.

- Não vos disse eu? - gritou o do alvitre. - Atirem fogo cá pra dentro, que o palheiro chega ao teto.

Quatro homens arrancaram gabelas das medas que ainda não ardiam, acenderam-nas nas outras incendiadas, e remessaram o fogo ao palheiro. Norberto Calvo confrangeu-se até à medula dos ossos. Entendeu que o palacete ia arder, e os cercados ou morriam no fogo ou caíam varados de balas, quando saíssem.

- Que é do Calvo? - perguntou o Torto ao seu companheiro.

- Disse que ficava a ter mão no povo, que não chegasse para cá.

- Tem medo, o valentão - observou o outro rindo.

<< Página Anterior

pág. 98 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 98

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177