E, trepando por uma olaia encostada ao muro, saltou das ramadas ao pomar, seguido de todos os seus conterrâneos. Faiscaram duas escorvas nas janelas da casa, e as balas bateram nas parreiras, lascando os caibros.
Os invasores correram a cingir-se com a casa, rodearam-na a coberto da espingardaria, e saíram ao eirado onde ardiam as medas. O rebate continuava, já respondido pelo toque de duas freguesias próximas. No entanto, os três criados da abadia, correndo ao longo da fachada do palacete, entestaram com uma porta estreita, contígua à capela. Os pujantes Frazão e Torto levaram-na às recuadas, quebrando a lingueta da fechadura. Mas, ao entrarem pelo outro lado da eira, afuzilaram três tiros das janelas, e logo o Torto, saltando para trás, disse que uma bala lhe tinha dado na canela. E, ao mesmo tempo, avançando enfurecido, bradou:
- É pr’aqui, rapazes!
Neste comenos, cinco dos de Midões, obedecendo ao conselho de João Rolhas, o mais previsto e afamado em assaltos, remeteram com uma porta, que se lhes figurou a mais fraca. Era, com efeito, a entrada do palheiro. Ao segundo embate as almofadas racharam. Um deles meteu o braço e levantou uma aldraba.
- Não vos disse eu? - gritou o do alvitre. - Atirem fogo cá pra dentro, que o palheiro chega ao teto.
Quatro homens arrancaram gabelas das medas que ainda não ardiam, acenderam-nas nas outras incendiadas, e remessaram o fogo ao palheiro. Norberto Calvo confrangeu-se até à medula dos ossos. Entendeu que o palacete ia arder, e os cercados ou morriam no fogo ou caíam varados de balas, quando saíssem.
- Que é do Calvo? - perguntou o Torto ao seu companheiro.
- Disse que ficava a ter mão no povo, que não chegasse para cá.
- Tem medo, o valentão - observou o outro rindo.