A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 264 / 524

As espécies puras têm evidentemente os seus órgãos de reprodução numa condição perfeita, porém, quando entrecruzam, produzem poucos ou nenhuns descendentes. Os híbridos, por outro lado, têm órgãos reprodutivos funcionalmente impotentes, como se pode ver claramente no estado do elemento masculino, tanto nas plantas como nos animais; embora os próprios órgãos sejam estruturalmente perfeitos, tanto quanto nos revela o microscópio. No primeiro caso, os dois elementos sexuais que vão formar o embrião são perfeitos; no segundo caso, ou não estão sequer desenvolvidos ou estão imperfeitamente desenvolvidos. Esta distinção é importante quando se tem de considerar a causa da esterilidade, que é comum aos dois casos. A superficialidade com que se tem tratado a distinção deve-se, provavelmente, ao facto de se encarar a esterilidade em ambos os casos como uma dotação especial, que ultrapassa o âmbito dos nossos poderes de raciocínio.

A fertilidade das- variedades, ou seja, das formas que se sabe ou acredita terem descendido de antecessoras comuns, quando entrecruzadas, e analogamente a fertilidade da sua prole mista, tem, segundo a minha teoria, uma importância igual à da esterilidade das espécies; pois parece fazer uma distinção ampla e clara entre variedades e espécies.

Primeiro, a esterilidade das espécies quando cruzadas e da sua prole híbrida. É impossível estudar as diversas monografias e obras daqueles dois escrupulosos e admiráveis observadores, Kölreuter e Gärtner, que praticamente dedicaram as suas vidas a este tema, sem se ficar profundamente impressionado com a elevada generalidade de algum grau de esterilidade. Kölreuter torna a regra universal; mas então corta o nó, pois em dez casos em que encontrou duas formas, consideradas espécies distintas pela maioria dos autores, completamente férteis entre si, classifica-as sem hesitar como variedades.





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