A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 282 / 524

Algo análogo ocorre na enxertia; porquanto Thouin descobriu que três espécies de Robinia, que produziam semente livremente nas suas próprias raízes e que podiam ser enxertadas noutras espécies sem grande dificuldade, tornavam-se inférteis quando eram assim enxertadas. Por outro lado, certas espécies de Sorbus, quando enxertadas noutras espécies, produziam duas vezes mais fruto do que quando nas suas próprias raízes. Este último facto recorda-nos o caso extraordinário do Hippeastrum, da Lobélia, etc; que produzem semente muito mais livremente quando fertilizadas com o pólen de espécies distintas, do que quando autofertilizadas com o seu próprio pólen.

Vemos assim que, embora haja uma diferença clara e fundamental entre a mera adesão de castas enxertadas e a união dos elementos masculino e feminino no acto reprodutivo, há um paralelismo rudimentar nos resultados da enxertia e do cruzamento de espécies distintas. E dado termos de olhar para as curiosas e complexas leis que regem a facilidade com que as árvores podem ser enxertadas umas nas outras como dependentes de diferenças desconhecidas nos seus sistemas vegetativos, assim creio que as leis ainda mais complexas que regem a facilidade dos primeiros cruzamentos dependem de diferenças desconhecidas, principalmente nos seus sistemas reprodutivos. Estas diferenças, em ambos os casos, seguem até certo ponto, como seria de esperar, a afinidade sistemática pela qual se procura exprimir todo o tipo de semelhança e dissemelhança entre seres orgânicos. Os factos de maneira nenhuma me parecem indicar que a maior ou menor dificuldade de ou enxertar ou cruzar reciprocamente várias espécies foi uma dotação especial; ainda que, no caso do cruzamento, a dificuldade seja tão importante para a persistência e estabilidade das formas específicas como irrelevante para o seu bem-estar no caso da enxertia.





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