A Origem das Espécies - Cap. 12: CAPÍTULO XI
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Pág. 404 / 524

Deve-se observar que as espécies setentrionais e as formas encontradas nas partes meridionais do hemisfério sul e nas cordilheiras das regiões intertropicais não são árcticas, mas pertencem às zonas setentrionais temperadas. Como observou recentemente o Sr. H. C. Watson: «Afastando-nos das latitudes polares em direcção às equatoriais, as floras alpinas ou montanhesas tornam-se de facto cada vez menos árcticas.» Muitas das formas que vivem nas montanhas das regiões mais quentes da Terra e no hemisfério sul são de valor duvidoso, sendo classificadas por alguns naturalistas como especificamente distintas e por outros como variedades; mas algumas são seguramente idênticas e muitas, embora intimamente próximas das formas setentrionais, têm de ser classificadas como espécies distintas.

Vejamos agora como se pode esclarecer os factos anteriores, com base na crença, sustentada como é por um grande conjunto de indícios geológicos, de que todo o mundo, ou uma grande parte deste, foi durante o período glacial simultaneamente muito mais frio do que no presente. O período glacial, medido em anos, tem de ter sido muito longo; e quando relembramos a vastidão de espaços nos quais algumas plantas e animais naturalizados se propagaram em poucos séculos, este período terá sido mais do que suficiente para qualquer quantidade de migração. Com a lenta chegada do frio, todas as plantas tropicais e outras produções terão recuado de ambos os lados na direcção do equador, seguidas pelas produções temperadas e estas pelas árcticas; mas não nos preocupamos agora com as últimas. As plantas tropicais sofreram provavelmente muita extinção; não há como saber a que ponto; talvez anteriormente os trópicos suportassem tantas espécies como as que hoje vemos abundar no Cabo da Boa Esperança e em partes temperadas da Austrália.





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