A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 505 / 524

número para um único acto, sendo depois massacrados pelas suas irmãs estéreis; perante o surpreendente desperdício de pólen pelos nossos abetos, perante o ódio instintivo da abelha rainha pelas suas próprias filhas férteis; perante as vespas icnêumones que se alimentam dentro dos corpos vivos das lagartas; e perante outros casos semelhantes. A maravilha está, na verdade, segundo a teoria da selecção natural, em não se ter observado mais casos de ausência de perfeição absoluta.

As leis complexas e pouco conhecidas que regem a variação são as mesmas, tanto quanto podemos ver, que as que regeram a produção das chamadas «formas específicas». Em ambos os casos, as condições físicas não parecem ter produzido senão um pequeno efeito directo; porém, quando as variedades entram em qualquer zona, adquirem ocasionalmente alguns dos caracteres das espécies próprias dessa zona. Nas variedades como nas espécies, o uso e o desuso parecem ter produzido algum efeito; pois é difícil resistir a esta conclusão quando olhamos, por exemplo, para o pato-de-asas-curtas, cujas asas não lhe permitem voar, quase na mesma condição que no pato doméstico; ou quando observamos o escavador tuco-tuco, que por vezes é cego, e então para certas toupeiras, que são normalmente cegas e têm os olhos cobertos de pele; ou quando observamos os animais cegos que habitam as cavernas escuras da América e da Europa. Nas variedades como nas espécies, a correlação de crescimento parece ter desempenhado um papel muitíssimo importante, de modo que quando uma parte é modificada, as outras partes são necessariamente modificadas. Nas variedades como nas espécies ocorrem reversões a caracteres há muito perdidos. Como é inexplicável, com base na teoria da criação, o aparecimento ocasional





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