O AntiCristo - Cap. 45: Capítulo 45 Pág. 73 / 117

Forçados, como hipócritas, a serem furtivos, se esconderem nos cantos, se esquivarem pelas sombras, convertem sua necessidade em dever: é como um dever que surge sua vida humilde, e tal humildade converte-se em mais uma prova de devoção... Ah, essa humilde, casta e misericordiosa fraude! “A própria virtude deve testemunhar em nosso favor”... Leiam-se os Evangelhos como livros de sedução moral: essa gentinha insignificante se atrela à moral — conhecem perfeitamente suas utilidades! A moral é o melhor meio para conduzir a humanidade pelo nariz! — A verdade é que a mais consciente presunção dos eleitos disfarça-se de modéstia: desse modo colocaram a si próprios, a “comunidade”, os “bons e justos”, de uma vez por todas, de um lado, do lado da “verdade” — e o resto da humanidade, “o mundo”, do outro... Nisto observamos a espécie mais fatal de megalomania que a Terra já testemunhou: pequenos abortos de beatos e mentirosos começam a reivindicar direitos exclusivos sobre os conceitos de “Deus”, “verdade”, “luz”, “espírito”, “amor”, “sabedoria”, “vida”, como se fossem sinônimos deles próprios, e através disso buscaram estabelecer o limite entre si e o “mundo”; pequenos superjudeus, maduros para todo tipo de manicômio, viraram os valores de cabeça para baixo para satisfazerem suas noções, como se somente o cristão fosse o significado, o sal, a medida e também o juízo final de todo o resto... Todo esse desastre só foi possível porque no mundo já existia uma megalomania similar, de mesma raça, a saber, a judaica: uma vez que se abriu o abismo entre judeus e judeus-cristãos, a estes já não havia escolha senão empregar os mesmos procedimentos de autoconservação que o instinto judaico lhes aconselhava, mesmo contra os próprios judeus, ainda que judeus somente os tivessem empregado contra não-judeus. O cristão é simplesmente um judeu de confissão “reformada”.





Os capítulos deste livro