- Foi aqui que o bruto meteu o focinho - disse, dando um chute no rodapé, logo abaixo do quadro.
- Que lugar é esse? Já vi essa casa.
- É uma igreja, ou foi uma igreja. Chamava-se S. Clemente dos Dinamarqueses. - O fragmento de cantiga que o Sr. Charrington lhe ensinara voltou-lhe à memória e ele acrescentou, quase com saudade: - Laranjas e limões, dizem os sinos de S. Clemente!
Para sua imensa surpresa, Júlia continuou:
- Me deves três vinténs, dizem os sinos de S. Martinho, Quando me pagarás? dizem os sinos de Old Bailey... Não me lembro como é que continua. Só sei que acaba assim: Aí vem uma luz para te levar para a cama. Aí vem um machado para te cortar a cabeça!
Pareciam santo e senha. Mas devia haver outro verso depois de "os sinos de Old Bailey." Talvez conseguisse arrancá-lo da lembrança do Sr. Charrington, se o espicaçasse bem.
- Quem te ensinou isso?
- Meu avô. Costumava cantar-me essa cantiga quando eu era menina. Foi vaporizado quando eu tinha oito anos... ou pelo menos desapareceu. O que será, limão? -acrescentou, inconsequente. - Já vi laranja. É uma espécie de fruta redonda, amarela, com casca grossa.
- Eu me lembro do limão. Era bem comum até 1950 e pouco. Era tão azedo que só de cheirar a gente ficava com a boca amarga.
- Aposto que esse quadro tem bichos por trás - disse Júlia.