1984 - Cap. 17: Capítulo XVII Pág. 217 / 309

Filho de pais do Partido Interno não é, em teoria, a ele filiado. A admissão a qualquer das esferas do Partido se faz por exame, prestado aos dezasseis anos. Não há nenhuma discriminação racial, nem qualquer pronunciado domínio de uma província sobre outra. Encontram-se judeus, negros, sul-americanos de puro sangue índio nos postos mais elevados do Partido, e os administradores regionais' são sempre convocados dentre os naturais da área. Em nenhuma parte da Oceania têm os habitantes a impressão de ser colonia administrada de uma longínqua capital. A Oceania não tem capital, e o seu chefe titular é uma pessoa cujo paradeiro todos ignoram. Não é centralizada de modo algum, à exceção da língua franca, que é o inglês, e da Novilíngua, que é o idioma oficial. Seus governantes não são ligados por laços deconsanguinidade mas pela obediência a uma doutrina comum. É verdade que a nossa sociedade é estratificada, e muito rigidamente, segundo o que - à primeira vista - parecem ser linhas hereditárias. Há muitíssimo menos movimento de vai e vem entre os grupos diferentes do que acontecia no capitalismo ou mesmo nos períodos pré-industriais. Entre os dois ramos do Partido existe certa dose de intercâmbio, cujo único propósito, porém, é permitir a exclusão dos fracos do Partido Interno e a neutralização dos mais ambiciosos militantes do Partido Externo, guindados a uma esfera mais elevada. Na prática, os proletários não têm direito de entrar para o Partido. Os mais bem dotados, que poderiam se tornar núcleos de descontentamento, são simplesmente assinalados pela Polícia do Pensamento e eliminados. Mas esse estado de coisas não é necessariamente permanente, nem é questão de princípio. O Partido não é uma classe no antigo sentido da palavra.




Os capítulos deste livro