Gordon dobrou a esquina, ao mesmo tempo que analisava mentalmente uma linha de Prazeres Londrinos. De súbito, imobilizou-se. Havia algo de errado no aspecto da cancela de Doring. Que era? Ah, com certeza! Não se viam carros estacionados nas imediações.
Avançou um ou dois passos e voltou a deter-se, como um cão que fareja o perigo.
O cenário estava de facto errado. Tinha de haver alguns carros. Comparecia sempre muita gente às recepções, e uma boa parte deslocava-se em transporte próprio. Como se explicava que não tivesse chegado mais ninguém? Seria demasiado cedo? Mas não! Haviam-lhe dito que era às três e meia e já faltavam vinte para as quatro.
Estugou o passo em direcção à cancela, praticamente convencido de que- a reunião fora cancelada. Acudira-lhe uma sensação glacial, como se projectasse nele repentinamente a sombra de uma nuvem. E se os Doring não estivessem em casa? E se a recepção tivesse sido cancelada? A ideia, embora o desolasse, não lhe parecia de modo algum improvável. Constituía a sua pecha especial, o temor infantil que- nunca o abandonava, ser convidado e' depois verificar que as pessoas não se encontravam em casa. Mesmo quando não existia a menor dúvida quanto à autenticidade do convite, receava sempre que surgisse algum impedimento, de última hora. Nunca tinha a certeza de ser bem-vindo. Partia do firme princípio de que as pessoas o olhariam com indiferença e esqueceriam com prontidão. E por que não? Não tinha dinheiro. Quando não temos dinheiro, a nossa vida constitui uma longa série de olhares de indiferença.
Impeliu a cancela, que rangeu com um som nostálgico. A passagem molhada era ladeada por pedaços de pedra rosada Rackhamesca.