Quando chegaram à entrada do jardim dos Bovary, Emma empurrou cancela, subiu os degraus a correr e desapareceu.
Léon voltou para o escritório. O patrão estava ausente; lançou um olhar sobre os molhos de documentos, aparou uma pena, pegou por fim no chapéu e saiu.
Subiu até ao Pasto, no alto da encosta de Argueil, à entrada da floresta; deitou-se no chão, debaixo dos pinheiros, e pôs-se a fixar o céu através dos dedos cruzados sobre os olhos.
- Que tédio! - dizia ele para consigo. - Que vida aborrecida! Lamentava-se de viver naquela aldeia, tendo Homais como amigo e Guillaumin como patrão. Este último, sempre absorvido no trabalho, com óculos de aros de ouro e suíças ruivas por cima de um lenço branco, não entendia nada das delicadezas do espírito, apesar de afectar um temperamento rígido e inglês que deslumbrara o escriturário nos primeiros tempos. Quanto à mulher do farmacêutico, era a melhor esposa da Normandia, mansa como um cordeiro; acariciava os filhos, o pai, a mãe, os primos, chorava com as desgraças dos outros, deixava andar tudo em casa de qualquer maneira e detestava os espartilhos, mas era tão lenta de movimentos, tão maçadora quando falava, tinha um aspecto tão vulgar e uma conversação tão restrita, que, embora, tivesse trinta anos e ele vinte, dormissem ambos porta com porta e lhe falasse todos os dias, jamais pensaria que ela pudesse ser mulher para alguém, ou que tivesse do sexo algo mais além das salas.